"Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;
Um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós."
Efésios 4:1-6

Dons Espirituais (Dom de Línguas)

Doutrina: Dons Espirituais (Dom de Línguas)
Texto-base: 1 Co 14.

Paulo diz que não devemos ser ignorantes quanto aos dons espirituais (1 Co 12.1). Assim, o estudo de todos os dons, inclusive o de línguas, é de suma importância para a igreja.
Dom de Línguas é a capacidade, dada pelo Espírito Santo, de falar em uma língua desconhecida (estranha ao conhecimento) daquele que fala. É concedida pelo Espírito Santo (At 2.4) e não aprendida. As palavras não brotam da mente, mas do espírito.
A Bíblia fala de línguas dos homens e dos anjos (1 Co 13.1). Existem hoje, no mundo todo, cerca de 5.600 idiomas e dialetos. O homem que fala o maior número de idiomas, fala 55 deles. Ou seja, o maior especialista no assunto, conhece apenas 1% dos idiomas mundiais. Nem ele está apto para julgar se uma língua, por mais estranha que pareça, é um idioma falado em alguma parte do planeta. No dia de Pentecostes, algumas das línguas que os discípulos falaram foram reconhecidas (13 nações), mas outras possivelmente não.
O dom de línguas é um dos dons mais característicos da igreja, pois outros dons foram manifestos no AT: Sabedoria (Dt 34.9; 1 Rs 3.9-12), Conhecimento (Ex 31.3), Fé (Gn 15.6), Curar (1 Rs 17.17-23; 2 Rs 4.18-37), Milagres (2 Rs 1.10; 6.4-7; Ex 7.10,20), Profecia (2 Sm 23.2; Nm 24.2), Discernimento (1 Rs 14.1-6; Ex 32.17-19). O dom de línguas, entretanto, é manifesto pela primeira vez no dia de Pentecostes. No dia em que a igreja foi fundada, falou em línguas. Isto é significativo!

A manifestação do dom de línguas não elimina:
- a consciência e a inteligência humana, ao contrário da possessão maligna;
- o bom-senso de usar o dom de forma adequada;
- a necessidade de crescimento espiritual e maturidade no uso dos dons;
- a possibilidade de pecar, se não vigiar;
- a necessidade de humilhar-nos, pois o dom não nos torna super-crentes, superiores.

Alguns teólogos afirmam que as línguas no Pentecostes eram uma capacitação para pregação do evangelho, mas não há evidências deste uso do dom. Nem isto era estritamente necessário, uma vez que o grego Koinê era a língua mundial, falada por muitos (Deus preparou o ambiente certo para a expansão do evangelho). As interpretações conhecidas são de expressões de adoração e louvor a Deus. Os ouvintes, no Pentecostes, não aceitaram a Jesus como resultado do dom de línguas, mas da pregação feita por Pedro, em aramaico.

Paulo afirma que seu desejo era que todos falassem em línguas (1 Co 14.5) e ao mesmo tempo, diz que nem todos falam em outras línguas (1 Co 12.29,30). Assim, podemos entender que existem alguns propósitos distintos para o uso deste dom:

1. Como evidência do Batismo com o Espírito Santo.

É necessária uma evidência inicial para que se tenha certeza do recebimento do batismo com o Espírito Santo, do contrário, como se saberá que isto ocorreu?
Em 3 ocasiões, pelo menos, o batismo foi evidenciado pelo falar em outras línguas: No dia de Pentecostes (At 2.4), na casa de Cornélio (At 10.44-46) e em Éfeso (At 19.6).
Em outras 3 ocasiões, o falar em línguas não é mencionado. Mas podemos entender que esta omissão dá-se, talvez, pela brevidade dos relatos:
Em Samaria (At 8.14-19) – Houve manifestação de sinais, que chamaram a atenção de Simão, o mágico, que queria pagar por isto. Este sinal não seria o falar em línguas?
Em Jerusalém, após serem confrontados pelo conselho dos judeus (At 4.31) – Poderiam ser os mesmos que foram batizados antes, num momento de renovação?
Em Damasco, quando Saulo recebeu a visita de Ananias (At 9.17). O relato não diz que ele falou em línguas, mas Paulo tinha este dom (1 Co 14.18).

2. Na adoração e oração particular.

Muitas vezes enfrentamos ocasiões difíceis, sobre as quais não sabemos como orar. Então o Espírito Santo nos ajuda (Rm 8.26-28). A mente é superada e o espírito se comunica diretamente com Deus.
Devemos orar no espírito (Ef 6.18) e também com a mente.
O falar em línguas promove a edificação própria (1 Co 14.2,4,5; Jd 20) e, portanto, deve ser usado preferencialmente na adoração particular. Paulo afirma que, na igreja, é preferível falar de modo a edificar o Corpo de Cristo e não apenas a si mesmo (1 Co 14.19).
Neste aspecto, o dom é concedido amplamente aos crentes, para comunicação com Deus, edificação particular, adoração e gratidão.

3.Línguas com interpretação = mensagem profética.

Quando a língua é interpretada, edifica a igreja (1 Co 14.26-28, 12,13). O valor funcional das línguas com interpretação é igual à profecia. Tem o propósito de ensino (1 Co 14.6-12), adoração (1 Co 14.13-19), evangelismo (1 Co 14.20-25) e no ministério (1 Co 14.26-33).
Nada substitui a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, mas Deus também fala às necessidades individuais, através de mensagens específicas.

O uso público das línguas deve ser controlado. Sem interpretação, causa confusão. A profecia é preferível à língua interpretada, pois fala diretamente os homens, sem depender de outro dom.
Quem fala em línguas deve orar para também receber o dom de interpretação.
Esta interpretação não é necessariamente das palavras (literal), mas do sentido da mensagem, do seu significado (explicação). Como a profecia, esta mensagem deve ser julgada.

Aqui percebemos alguns pontos no uso do dom de línguas:
a) Neste aspecto, o dom é limitado na sua distribuição (1 Co 12.11,30).
b) Deve ser empregado um por vez.
c) Deve ser interpretado.
d) Se não houver interpretação, não deve ser pronunciada em alta voz no culto público. Alguns pregadores se empolgam e falam muito em línguas no microfone, sem que se receba nenhuma mensagem.

4.Línguas como um sinal para os incrédulos.

As línguas também são usadas por Deus como um sinal de julgamento, para os incrédulos, como fizera no AT (Is 28.11), deixando o descrente consciente de que está separado de Deus, não compreendendo sua expressão e nem estando apto a expressá-la. É apenas um sinal, não uma mensagem. O efeito cessará logo. É necessário que haja também a exposição do evangelho, que gera fé (Rm 10.17).

É necessário um cuidado com a falsificação deste dom. Só o Espírito Santo pode concedê-lo ao crente. Não pode ser ensinado ou aprendido.
Uma vez que é concedido pelo Espírito, não confere status de espiritualidade para ninguém. O fruto do Espírito é a demonstração genuína de vida consagrada.
O dom de línguas não deve ser um fim em si mesmo, que uma vez alcançado revela que todo o crescimento espiritual já ocorreu na vida do crente, mas deve ser um meio de se continuar buscando cada vez mais a perfeição em Cristo.

Obras consultadas:

HAYFORD, Jack. A Beleza da Linguagem Espiritual. São Paulo: Vida.
DUFFIELD, Guy P., VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000.
HORTON, Stanley M. O que a Bíblia diz Sobre o Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 1993.